Apesar de comemorados pelo governo e entidades empresariais como sinais de recuperação, os resultados econômicos de 2019 ficaram abaixo das expectativas e têm gerado uma revisão de previsões para 2020.
A queda da produção industrial acendeu um sinal de alerta para analistas, e aumentos tímidos nas atividades do varejo e de serviços são acompanhados com preocupação. Alguns dados positivos como a queda da inflação e redução da taxa de juros são avaliados mais como subprodutos da recessão do que como resultado do controle fiscal do governo.
O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil cresceu 1,1% em 2019, percentual que repete o resultado fraco dos dois anos anteriores. São 22 trimestres com resultados abaixo do nível pré-crise.
Em janeiro de 2019, a pesquisa semanal feita pelo Banco Central com analistas de mercado (boletim Focus) chegou a apontar uma alta de 2,53% para o ano, resultado também endossado pelo FMI. Imprevistos como o trágico rompimento da barragem da Vale em Brumadinho e movimentos negativos do mercado externo são citados como razões para o crescimento menor que o esperado.
Também houve excesso de otimismo nas análises em relação à recuperação da demanda, ainda lenta por parte das famílias, com geração de emprego sem aumento da renda, e em queda em relação aos gastos do governo. Conforme os resultados de atividade de 2019 são conhecidos, analistas têm revisado para baixo a previsão de crescimento do PIB para 2020. Hoje a aposta está em torno de 2%.
Varejo e serviços aquém do esperado e indústria em queda
As vendas do varejo avançaram 1,8% em 2019, um resultado mais fraco do que esperado por analistas e menor que em 2017 (2,1%) e 2018 (2,3%). O ganho acumulado pelo setor nos três últimos anos é de 6,3%, o que ainda não recupera a perda de 10,2% de 2015 a 2016.
Preocupam o desempenho de dezembro de 2019, um recuo de 0,1%, que interrompeu uma sequência de sete altas seguidas, e a perda de ritmo no 4º trimestre (alta de 1,2% depois de 1,6% no 3º trimestre). Por enquanto, as previsões para 2020 vão de crescimento de 3% a 5,3% no setor, a depender da disponibilidade de crédito e do aumento da renda da população.
O setor de serviços cresceu 1% em 2019 depois de quatro anos sem resultados positivos. O desempenho também foi considerado tímido por analistas e está longe de recuperar a queda de 11% acumulada de 2015 a 2017.
A indústria parece ser o ponto mais frágil da economia. A produção industrial caiu 1,1% em 2019, o que mostra a dificuldade de recuperação do setor. Como destaca o jornal Valor Econômico, “mesmo com juros mais baixos e um câmbio mais desvalorizado, a indústria brasileira enfrenta dificuldades para competir no exterior e também no mercado doméstico”.
A balança comercial da indústria de transformação fechou 2019 com déficit de US$ 34,1 bilhões, 32% maior que em 2018. O valor exportado é inferior em 7,3% ao de 2008, último ano em que o setor industrial teve um aumento consistente das vendas externas. Para 2020, as perspectivas são de desempenho ainda fraco nas exportações industriais, segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Investimento sem força e renda estável
Com a redução de gastos e investimentos públicos, o crescimento do PIB precisa vir principalmente pela recuperação do consumo das famílias e do investimento das empresas, que ainda não dão sinais consistentes de aquecimento.
Apesar da queda do desemprego em 2019, o resultado não se refletiu em aumento de rendimentos, pois uma parte expressiva das novas pessoas ocupadas estão em trabalhos de baixa remuneração, e o contingente de desempregados se mantém alto (11,6 milhões de pessoas).
A taxa média de desocupação em 2019 ficou em 11,9%, menor que em 2018 (12,3%). Isso significa que houve um acréscimo de 1,8 milhão de ocupados, dos quais 78% sem carteira assinada ou trabalhadores por conta própria, dentre eles entregadores de aplicativos. A taxa de informalidade em 2019 foi a maior em quatro anos.
O resultado dos investimentos também desapontaram. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os investimentos em máquinas, equipamentos, construção e pesquisa caíram 2,7% no quarto trimestre de 2019 em relação ao trimestre anterior. Foi o pior resultado desde o terceiro trimestre de 2016. Para o acumulado de 2019, era esperada uma alta de 3,6% dos investimentos, mas o desempenho negativo do último trimestre derrubou o resultado para 2,1%.
Para 2020, o ministro Paulo Guedes defende que o crescimento da economia depende da continuidade de novas “reformas estruturantes”, como a Reforma Tributária, a Reforma Administrativa e Propostas de Emenda à Constituição do pacto federativo.
Defendidas como pré-condições para uma retomada da economia, já foram aprovadas ao longo dos últimos três anos a PEC do teto de gastos, a Reforma Trabalhista e a Reforma da Previdência. O resultado até o momento tem sido a recuperação econômica mais lenta da história do País.
Por Samantha Maia
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