A notícia do fechamento do PIB do segundo trimestre de 2021 em -0,1% na comparação com o primeiro trimestre é deveras preocupante. A inflexão negativa, ainda que represente praticamente uma estabilização, indica um comportamento errático, sinalizando que a economia brasileira ainda não encontrou uma trajetória sustentada de retomada do crescimento, e vive de vôos curtos.
O que chama atenção é a mudança substancial no padrão da dinâmica econômica que sustentou o crescimento do período anterior. Enquanto a agropecuária e a indústria despontaram como os principais setores pelo lado da oferta, o comércio – e principalmente os serviços – vivenciavam a situação mais dramática.
Nesse trimestre o quadro se interverteu. Foram justamente os serviços que tiveram a alta mais significativa (0,7%), embalados pelo avanço da imunização e o findar das restrições legais. Já a agropecuária teve a queda mais expressiva (-2,8%) na comparação trimestral.
O paradoxo de por um lado ausência e por outro lado abundância de chuvas comprometeu a produção, com destaque para a contribuição negativa vinda do café. Na indústria, que teve retração de -0,2%, o grande vilão foi a inflação – que aumenta o preço de custo que em muitos casos não consegue ser repassado ao preço final -; as altas no gás, energia elétrica e combustíveis; e a escassez ou elevado encarecimento das matérias-primas e de consumo intermediário, vinculados à forte desvalorização do real frente ao dólar.
Pelo lado da demanda – na ótica do PIB – o consumo das famílias e o consumo do governo seguem estacionados, demonstrando problemas de demanda efetiva na sociedade. A política fiscal restrita com a volta do teto de gastos; o desemprego elevado e resiliente; a queda da renda média; a inflação que atinge mais os mais pobres e o aumento sistemático de juros concorrem como motivos que explicam porque a economia brasileira segue com tendência contracionistas.
O consumo das famílias é nada menos que 60% do PIB. A queda da renda em função do elevado desemprego e dificuldade de obtenção de crédito em função do aumento dos juros básicos jogam água fria nas possibilidades de recuperação.
Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.
Juliane Furno
É Professora na Faculdade de Economia UERJ. Foi Economista-Chefe do IREE. Cientista social, mestre e doutora em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia da Unicamp. Especialista em mercado de trabalho, desenvolvimento econômico e política industrial no setor de Petróleo e Gás.
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