Por Samantha Maia e Juliana Pithon
A necessidade de uma reforma da governança internacional foi destaque nos discursos da Assembleia Geral da ONU, cuja abertura foi realizada em Nova York no dia 19 de setembro. A Assembleia Geral é um órgão da ONU que define as políticas e o orçamento anual da organização.
Reflexo da crescente perda de influência da ONU no cenário internacional, chamou atenção a ausência dos chefes de Estado dos membros permanentes do Conselho de Segurança do órgão (França, Reino Unido, Rússia e China), assim como da Índia. O secretário-geral da ONU, António Guterres, reconheceu a dificuldade de reunir os Estados-membros da ONU e a profundidade das divisões existentes.
Além das limitações da ONU para intermediar os graves conflitos que envolvem a Guerra na Ucrânia, países em desenvolvimento e subdesenvolvidos reclamam da falta de atenção do órgão internacional para suas demandas e necessidades de financiamento.
António Guterres: “É reforma ou ruptura”
Em seu discurso na abertura da Assembleia Geral, Guterres defendeu a renovação das instituições multilaterais e afirmou que a governança global está parada no tempo. Ele destacou a importância de reformas no Conselho de Segurança da ONU e no sistema financeiro global para melhor refletir as realidades do mundo de hoje. Segundo Guterres, a estrutura atual é “disfuncional, datada e injusta”.
Joe Biden: “Instituições devem ser atualizadas”
Pela primeira vez, a expansão do Conselho de Segurança da ONU foi defendida pela Presidência dos Estados Unidos. Segundo Joe Biden, seu governo consultou seriamente os Estados-membros sobre a expansão do Conselho e Washington continuará a “impulsionar os esforços de reforma”.
O líder norte-americano também afirmou que é preciso contar com mais perspectivas à mesa e citou seu compromisso com reformas de outras instituições multilaterais e financeiras, como o Banco Mundial.
Lula da Silva: “Instituições reproduzem desigualdades”
Em seu discurso de abertura, o presidente Lula da Silva reforçou o pleito histórico do Brasil por reforma do Conselho de Segurança da ONU e denunciou o imobilismo das instituições da governança global.
O Presidente brasileiro defendeu a renovação das instituições multilaterais para a promoção da paz e afirmou que a guerra da Ucrânia escancara a incapacidade coletiva de fazer prevalecer princípios da Carta da ONU.
Lula também criticou a representação desigual no FMI e Banco Mundial, o protecionismo dos países ricos e a paralisia da OMC.
Outros destaques do discurso de Lula foram o alerta sobre a fome no mundo e a necessidade de reduzir as desigualdades, enfatizando a falta de vontade política para enfrentar o problema; a cobrança de recursos dos países ricos para a proteção do meio ambiente e o combate às mudanças climáticas; e a defesa de ação de combate ao racismo, à LGBTfobia, e aos preconceitos de gênero e contra pessoas com deficiência.
Reuniões bilaterais
Após reunião bilateral na quarta, dia 20 de setembro, os presidentes Lula e Biden lançaram a “Coalizão Global pelo Trabalho”, um documento pelo fortalecimento dos direitos trabalhistas e contra a precarização do trabalho. Dentre as medidas, defendem a liberdade sindical e garantias aos trabalhadores por aplicativo.
Lula também se reuniu pela primeira vez com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, para tratar de esforços de paz. Os líderes descreveram a reunião como uma “boa conversa”, “honesta e construtiva”. Foi um encontro importante para “quebrar o gelo” entre os líderes, segundo o ministro de Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba.